O número de mortes investigadas dobrou, o de lotes contaminados triplicou e o de rótulos comprometidos aumentou quatro vezes em apenas 24 horas.
*Jornal Hoje em Dia, 17/01/2020.
A síndrome nefroneural, doença que pode estar ligada ao consumo de cerveja com substâncias tóxicas, segue assustando Minas. Na tentativa de barrar o avanço do surto e esclarecer o caso, as autoridades expandem, também, o leque de ações. Nesta quinta-feira (16), varredura foi feita em fornecedor de monoetilenoglicol à Backer.
O produto químico foi encontrado tanto nos taques de produção quanto nas cervejas produzidas pela empresa, assim como o dietilenoglicol, considerado mais tóxico. A Backer nunca negou a utilização do mono.
Na quarta-feira, o Ministério da Agricultura (Mapa) informou que 15 toneladas de monoetilenoglicol foram adquiridas pela cervejaria mineira desde 2018. O órgão federal apertou o cerco. Agora são oito rótulos com a presença de substâncias tóxicas – antes eram dois.
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem pela Polícia Civil no galpão da empresa fornecedora em Contagem, na Grande BH.
Amostras de produtos e documentos foram recolhidos.
Duas pessoas foram ouvidas: um ex-funcionário da distribuidora de insumos e outro, um ex-trabalhador da Backer.
Advogados da cervejaria acompanharam os depoimentos. “A ação visa a garantia da realização de um procedimento investigativo moderno, transparente e embasado em preceitos constitucionais”, justificou a Polícia Civil, em nota.
Até o fechamento desta edição, o Hoje em Dia não localizou representantes da fornecedora de produtos químicos para comentar o caso.
De acordo com o Mapa, no total são 21 lotes contaminados, sendo que um deles foi usado para produzir dois rótulos. Além das marcas Belorizontina e Capixaba, divulgadas anteriormente, foram encontradas as substâncias tóxicas nas marcas Capitão Senra, Pele Vermelha, Fargo 46, Backer Pilsen, Brown e Backer D2.
As análises são realizadas pelos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária. Todos os produtos fabricados pela marca já estavam e continuam sendo retirados do mercado, por meio de recolhimento feito pela própria empresa e de ações de fiscalização e apreensão dos serviços de fiscalização.
Na tarde desta quinta-feira (16), a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em uma distribuidora no bairro Vila Paris, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que forneceria monoetilenoglicol para a cervejaria Backer. A substância tóxica é usada como anticongelante em serpentinas no processo de produção das bebidas.
Até o momento, quatro mortes provocadas por síndrome nefroneural - doença que pode estar ligada ao consumo de cerveja com substâncias tóxicas - foram registradas em Minas, conforme boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG).
Um homem de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que morreu em 7 de janeiro, teve o dietilenoglicol detectado no exame de sangue. Os outros óbitos, ainda em investigação, são de dois homens de BH, de 75 e 89 anos, e de uma mulher de 60, de Pompéu, no Centro-Oeste. Informações preliminares dão conta de que todos teriam consumido a Belorizontina antes de passar mal. Eles deram entrada em unidades de saúde com quadro de insuficiência renal. Até esta quinta, a SES já recebeu 18 notificações da doença.
A Backer informou que desde essa quarta-feira (15), atua para prestar assistência e apoio aos pacientes e seus familiares e que está colaborando com as autoridades e verificando seus processos para contribuir com as investigações.
Marca | Lote | Dietilenoglicol | Monoetilenoglicol |
Belorizontina | L2 1354 | Presente | Presente |
Belorizontina | L2 1348 | Presente | Presente |
Capixaba | L2 1348 | Presente | Presente |
Belorizontina | L2 1197 | Presente | Presente |
Belorizontina | L2 1604 | Presente | Ausente |
Belorizontina | L2 1455 | Presente | Ausente |
Belorizontina | L2 1464 | Presente | Ausente |
Capitão Senra | L2 1609 | Presente | Ausente |
Capitão Senra | L2 1571 | Presente | Ausente |
Pele Vermelha | L1 1448 | Presente | Ausente |
Pele Vermelha | L1 1345 | Presente | Ausente |
Fargo 46 | L1 4000 | Presente | Ausente |
Backer Pilsen | L1 1549 | Presente | Ausente |
Backer Pilsen | L1 1565 | Presente | Ausente |
Brown | 1316 | Presente | Ausente |
Backer D2 | L1 2007 | Presente | Ausente |
Belorizontina | L2 1593 | Presente | Presente |
Belorizontina | L2 1557 | Presente | Presente |
Belorizontina | L2 1604 | Presente | Presente |
Belorizontina | L2 1474 | Presente | Presente |
Belorizontina | L2 1546 | Presente | Ausente |
Belorizontina | L21487 | Presente | Ausente |
A água usada diretamente na fabricação das cervejas da Backer está contaminada por dietilenoglicol, segundo perícia do Mapa. Na prática, isso significa que o líquido que serve como base da produção de todos os rótulos da empresa, incluindo a Belorizontina que seria a responsável pela intoxicação de pelo menos 18 pessoas, estaria impróprio para o consumo.
A informação foi dada em coletiva de imprensa na tarde dessa quarta-feira (15), pelo coordenador geral de Vinhos e Bebidas do Mapa, Carlos Vitor Müller.
O Mapa trabalha com três hipóteses para a contaminação: sabotagem, vazamento e uso inadequado das moléculas de monoetilenoglicol no processo de refrigeração do sistema.
A fiscalização encontrou um uso elevado do produto, que é utilizado no sistema de refrigeração. De acordo com o Mapa, 15 toneladas do produto foram compradas pela cervejaria desde 2018.