O número de mortes investigadas dobrou, o de lotes contaminados triplicou e o de rótulos comprometidos aumentou quatro vezes em apenas 24 horas.

17/01/2020 08:23

*Jornal Hoje em Dia, 17/01/2020.

 

A síndrome nefroneural, doença que pode estar ligada ao consumo de cerveja com substâncias tóxicas, segue assustando Minas. Na tentativa de barrar o avanço do surto e esclarecer o caso, as autoridades expandem, também, o leque de ações. Nesta quinta-feira (16), varredura foi feita em fornecedor de monoetilenoglicol à Backer.

O produto químico foi encontrado tanto nos taques de produção quanto nas cervejas produzidas pela empresa, assim como o dietilenoglicol, considerado mais tóxico. A Backer nunca negou a utilização do mono.

Na quarta-feira, o Ministério da Agricultura (Mapa) informou que 15 toneladas de monoetilenoglicol foram adquiridas pela cervejaria mineira desde 2018. O órgão federal apertou o cerco. Agora são oito rótulos com a presença de substâncias tóxicas – antes eram dois.

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem pela Polícia Civil no galpão da empresa fornecedora em Contagem, na Grande BH.

Amostras de produtos e documentos foram recolhidos.

Duas pessoas foram ouvidas: um ex-funcionário da distribuidora de insumos e outro, um ex-trabalhador da Backer. 

Advogados da cervejaria acompanharam os depoimentos. “A ação visa a garantia da realização de um procedimento investigativo moderno, transparente e embasado em preceitos constitucionais”, justificou a Polícia Civil, em nota.

Até o fechamento desta edição, o Hoje em Dia não localizou representantes da fornecedora de produtos químicos para comentar o caso.

De acordo com o Mapa, no total são 21 lotes contaminados, sendo que um deles foi usado para produzir dois rótulos. Além das marcas Belorizontina e Capixaba, divulgadas anteriormente, foram encontradas as substâncias tóxicas nas marcas Capitão Senra, Pele Vermelha, Fargo 46, Backer Pilsen, Brown e Backer D2.

As análises são realizadas pelos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária. Todos os produtos fabricados pela marca já estavam e continuam sendo retirados do mercado, por meio de recolhimento feito pela própria empresa e de ações de fiscalização e apreensão dos serviços de fiscalização.

Na tarde desta quinta-feira (16), a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em uma distribuidora no bairro Vila Paris, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que forneceria monoetilenoglicol para a cervejaria Backer. A substância tóxica é usada como anticongelante em serpentinas no processo de produção das bebidas.

Até o momento, quatro mortes provocadas por síndrome nefroneural - doença que pode estar ligada ao consumo de cerveja com substâncias tóxicas - foram registradas em Minas, conforme boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG).

Um homem de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que morreu em 7 de janeiro, teve o dietilenoglicol detectado no exame de sangue. Os outros óbitos, ainda em investigação, são de dois homens de BH, de 75 e 89 anos, e de uma mulher de 60, de Pompéu, no Centro-Oeste. Informações preliminares dão conta de que todos teriam consumido a Belorizontina antes de passar mal. Eles deram entrada em unidades de saúde com quadro de insuficiência renal. Até esta quinta, a SES já recebeu 18 notificações da doença.

A Backer informou que desde essa quarta-feira (15), atua para prestar assistência e apoio  aos pacientes e seus familiares e que está colaborando com as autoridades e verificando seus processos para contribuir com as investigações.

Veja quais cervejas estão contaminadas
Marca Lote Dietilenoglicol Monoetilenoglicol
Belorizontina L2 1354 Presente Presente
Belorizontina L2 1348 Presente Presente
Capixaba L2 1348 Presente Presente
Belorizontina L2 1197 Presente Presente
Belorizontina L2 1604 Presente  Ausente
Belorizontina L2 1455 Presente Ausente
Belorizontina L2 1464 Presente Ausente
Capitão Senra L2 1609 Presente Ausente
Capitão Senra L2 1571 Presente Ausente
Pele Vermelha L1 1448 Presente Ausente
Pele Vermelha L1 1345 Presente Ausente
Fargo 46 L1 4000 Presente Ausente
Backer Pilsen L1 1549 Presente Ausente
Backer Pilsen L1 1565 Presente Ausente
Brown 1316 Presente Ausente
Backer D2 L1 2007 Presente Ausente
Belorizontina L2 1593 Presente Presente
Belorizontina L2 1557 Presente Presente
Belorizontina L2 1604 Presente Presente
Belorizontina L2 1474 Presente Presente
Belorizontina L2 1546 Presente Ausente
Belorizontina L21487 Presente Ausente

A água usada diretamente na fabricação das cervejas da Backer está contaminada por dietilenoglicol, segundo perícia do Mapa. Na prática, isso significa que o líquido que serve como base da produção de todos os rótulos da empresa, incluindo a Belorizontina que seria a responsável pela intoxicação de pelo menos 18 pessoas, estaria impróprio para o consumo. 

A informação foi dada em coletiva de imprensa na tarde dessa quarta-feira (15), pelo coordenador geral de Vinhos e Bebidas do Mapa, Carlos Vitor Müller. 

O Mapa trabalha com três hipóteses para a contaminação: sabotagem, vazamento e uso inadequado das moléculas de monoetilenoglicol no processo de refrigeração do sistema.

A fiscalização encontrou um uso elevado do produto, que é utilizado no sistema de refrigeração. De acordo com o Mapa, 15 toneladas do produto foram compradas pela cervejaria desde 2018.